Outro dia estava conversando com uma amiga sobre o meu gosto de andar de bicicleta pela cidade. Ela me dizia que tinha medo e, para se justificar, se usava como exemplo: “se os outros motoristas forem como eu… eu sou muito distraída!”
Isso me fez pensar.
O carro, como o conhecemos hoje, foi meticulosamente projetado para que uma pessoa distraída possa dirigí-lo, com uma mão só, e em segurança. Caso algo fuja do controle, cinto de segurança, airbag, freio ABS, tudo para proteger este pobre distraído.
Os carros são cada vez mais seguros. Mas acho que vale se perguntar: Seguros pra quem?

Ao ver notícias de atropelamentos penso em vidas sendo perdidas por imprudências estúpidas: alta velocidade não intencional, um grampo que caiu embaixo do banco, uma mensagem de texto, uma discussão no celular, a cabeça no mundo da lua… Como é possível que possamos pilotar uma máquina de uma tonelada a mais de 50km/h distraídos com um celular? Algo está errado.
O projeto do automóvel atual é o de uma máquina de simples manuseio, super poderosa, e que protege seu condutor a todo custo, em detrimento da segurança de tudo o que houver a seu redor.
Assim como pessoas distraídas, também podem dirigí-los pessoas embriagadas, sonolentas, despreparadas…
Me parece claro que um veículo como este não é adequado para circular em centros urbanos, onde há um grande adensamento de pessoas. Me parece evidente que o carro é o veículo menos adequado para as cidades. Pelo menos esses carros que conhecemos hoje.
Um projeto de veículo para a cidade não pode levar em conta apenas a segurança do seu condutor, mas de todos a sua volta.
Acho que é uma reflexão válida. É muito comum olharmos para a evolução da tecnologia – e dos carros – como algo puramente técnico e neutro, que segue uma linha contínua do “pior” para o “melhor”. Mas a verdade é que precisamos questionar a orientação básica deste projeto de automóvel, que coloca uma arma e uma armadura na mão de cada motorista, para que eles se protejam uns dos outros, e não levam em consideração a cidade.
Já pensou nisso? Os carros funcionam muito bem para as estradas talvez, mas precisamos abandonar esse projeto para as cidades – ou abandonar as cidades – e pensar como seria o veículo ideal. Menor, menos poluente, menos agressivo, menos barulhento, etc… Não é?
Ótimo texto!!!
Só arruma o começo que está “Ouro dia” ao invés de “Outro dia”
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