Faça melhor que eu pago – desafio a indústria

É simples assim: Hoje o compartilhamentos de filmes e séries de TV via redes bit torrent é muito mais popular do que os meios oficiais e legais de distribuição porque o serviço é muito melhor. Não é uma questão apenas de ser de graça, é uma questão de agilidade e qualidade.

Tomemos por exemplo os fãs de seriados americanos que vivem  aqui no Brasil. Algumas horas depois de o último episódio ter sido transmitido nos EUA, os fãs brasileiros têm a disposição o vídeo em alta definição com legendas em português. Tudo graças a um esforço conjunto e distribuído de pessoas que digitalizam, compartilham e se organizam para legendar o episódio.

O ponto que eu quero defender nesse post é o seguinte: Se a indústria conseguir oferecer um serviço melhor que o oferecido pelas redes de compartilhamento, ela encontrará um mercado gigantesco disposto a pagar por seu material.

Note que toda a minha argumentação daqui enxerga como público as pessoas comuns, que não são experts em computadores e nem querem ter que estudar 3 tutoriais para conseguir assistir seu programa favorito.

Por quê?

1. Facilidade: Por mais que o bit torrent hoje seja popular, para a maioria das pessoas ele ainda é um bicho de sete cabeças. Não é uma coisa muito simples de usar e muitas pessoas comuns, que não são geeks, dependem de algum amigo para baixar as coisas que gostam de assistir. Entrar no site oficial da série ou do filme e clicar em download é sem dúvida algo infinitamente mais fácil.

2. Segurança: Fazer download do site oficial dá segurança ao usuário de que ele não está baixando um vírus.

3. Garantia de qualidade: Normalmente os releases de séries e filmes em bittorrent são muitos, cada um com uma compressão diferente, e nem sempre a qualidade é boa. Para o usuário comum, é muito difícil saber qual é o arquivo certo para baixar e são comuns os casos em que, por acidente, o usuário baixa um vídeo com o áudio dublado em um idioma estranho a ele, ou com legendas em chinês. Baixando do site oficial daria a garantia de que ele está baixando um vídeo na melhor qualidade possível.

4. Disponibilidade: As redes bittorrent são muito boas quando se está buscando por lançamentos e novidades mas ineficientes quando se busca por material mais antigo (e quando dizemos antigos estamos falando de apenas 1 ano, ou até alguns meses). Encontrar  um episódio que foi ao ar há 2 anos atrás pode ser muito difícil e, mesmo quando se encontra, o download é muito lento porque poucas pessoas ainda estão compartilhando. Ao longo do tempo, existira um arquivo imenso disponível para compra (ver cauda longa).

Como fazer?

1. Logo após a exibição do episódio na TV, ou logo após o lançamento do DVD, disponibilize o filme/série em seu site oficial para download pago por no máximo US$1,00 . Qualquer pessoa pode entrar no site, pagar, e receber acesso ao download rápido.
“Você está louco, dessa maneira eu vou estar fornecendo a materia prima para a pirataria de mão beijada” – Com certeza alguém vai comprar e disponibilizar de graça em redes bittorrent. Mas você não deve se preocupar com isso, por uma série de razões:

1.1 De qualquer maneira eles teriam o material para disponibilizar nas redes, pois gravam a série da TV ou fazem uma cópia do DVD.

1.2 A esse preço, por que eu vou me meter em toda a confusão e riscos do torrent se o site oficial está me oferecendo facilidade, segurança, garantia de qualidade e disponibilidade?

1.3 Não se engane: Se 1000 pessoas fazem download de redes de compartilhamento ou compram DVDs piratas, isso não significa 1000 DVDs a menos vendidos. A imensa maioria dessas pessoas nunca compraria o DVD. Quem, no cenário descrito acima, ainda optar pelo download via torrent, tem grandes chances de se enquadrar em uma dessas 2 categorias: a) geek, que não vê a menor dificuldade em baixar via torrent (minoria das pessoas), b) jovens ou pessoas que não tem autonomia financeira, ou um cartão de crédito para fazer uma compra online. Mas essas pessoas continuam sendo um público em potencial e podem passar a comprar assim que tiverem condições.

2. Disponibilize legendas: Hoje as comunidades conseguem produzir as legendas para os seriados em algumas horas. Sem a legenda vocês estarão deixando muita gente de fora.

3. Facilite o pagamento: Aceite todos os cartões, payPal e outros sistemas de pagamento digital

4. fidelize o público: Existem coisas que só vocês podem oferecer e que muita gente tem interesse. Existem experiências que são insubstituíveis. Participar de uma coletiva de imprensa, ao vivo, sobre o lançamento de um filme, por exemplo. Você pode assistir a entrevista depois, mas participar dela ao vivo, ter a possibilidade até de emplacar uma pergunta, ter acesso em primeira mão a informações que milhares de fãs querem ouvir, etc. Muitas coisas poderiam ser oferecidas a clientes fiéis. Coisas que não são substituíveis com um arquivo compartilhado. Estamos falando de experiência.

5. forneça assinaturas: Possibilidade de assinar uma série, e ter o download automático no meu computador, pra chegar em casa a noite e já estar lá o episódio que quero assistir, em alta qualidade, com legenda.

O que não fazer?

1. Não use DRM: Porque é complicado, porque pode não funcionar em todos os computadores e porque não impede nada.

2. Não atrase o lançamento: Uma semana é muito. Um dia é muito. As pessoas querem ter acesso imediato, assim que for transmitido na TV, assim que o DVD for lançado.
“Mas os filmes já estão nas bancas de camelô e nas redes antes de o DVD ser lançado, por que as pessoas comprariam”. Esses releases antes de o DVD ser lançados são, em sua maioria, de péssima qualidade. As pessoas querem ter prazer ao usar as suas novas TVs LCD de alta definição.

3. Não ponha barreiras para outros países: Permita que o mundo todo compre o arquivo, sem barreiras. Se o usuário encontrar qualquer barreira, ele vai para o torrent.

Finalizando

O desafio está lançado. Faça isso com uma série popular e veja o resultado. Eu acredito que a indústria está deixando de ganhar dinheiro não por causa da pirataria, mas por não saber oferecer um bom serviço. Para ilustrar essa ideia, vou contar rapidamente o que aconteceu comigo recentemente:

Resolvi começar a assistir a série LOST. A primeira temporada foi ao ar em 2005 e eu não conseguia achar bons torrents para baixar. A qualidade de alguns DVDs piratas que achei eram muito ruins, com a imagem cortada para 4:3, ficava muito ruim de assistir na minha tela Widescreen. Comprar os DVDs estava fora de cogitação, pois as caixas são muito caras e não tenho o menor interesse de acumulá-las em minhas prateleiras. A minha solução foi ir a boa e velha locadora na esquina de casa.

Repare: eu não comprei o DVD e nem esperei que o meu canal de TV local que comprou os direitos de exibição transmitisse. Eu aluguei, e a indústria deixou de ganhar comigo.

Faça melhor que eu pago – desafio a indústria

11 comentários sobre “Faça melhor que eu pago – desafio a indústria

  1. Aê Leo, belo texto!

    Concordo 100% !!!

    Baixar dá trabalho e você não acha de tudo com facilidade. É pra poucos.

    Os produtores de conteúdo tem que correr atrás de novos nichos. A locação de DVDs, por exemplo, caiu absurdamente, mas a venda de DVDs e Blu-Ray tá bombando forte! É o que segura a 2001 viva. É um nicho novo, dos colecionadores, os nerds que gostam de extras e documentários complementares ao filme. Vc já reparou que é muito raro achar extras de dvd pra baixar?

    E agora tem o cinema 3d que tá aí bombando! O Coraline eu vi no cinema e o Avatar vou ver no cinema tb. Até o Tarantino novo eu acabei baixando, por preguiça de ir ao cinema e por não querer pagar o que cobram de ingresso hoje, mas as projeções 3d me tiram de casa!

    A pirataria nunca vai acabar… Mas sempre vai ter uma mídia nova movimentando o mercado e salvando as majors.

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  2. Rafael disse:

    Eu acho que a indústria sabe disso, mas, querem que as pessoas façam as coisas a sua maneira!
    A indústria pensa ainda que é ela quem dita as normas e não nós consumidores.

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  3. Bom texto, eu não concordo em sua totalidade, mas valeu a proposta.
    Eu acho que só dá pra saber se vai dar certo tentando mesmo.

    Mas uma coisa ai é bem verdade, as pessoas até gostariam de ter qualidade, segurança e facilidade de um download original, mas infelizmente a pirataria oferece o produto num valor muito mais barato e com muito mais rapidez.
    O que quero dizer é: a pirataria só existe porque a indústria está um passo atrás dela. Ninguém deveria ficar atrás da sua própria cópia.

    Se a indústria oferecesse um serviço superior, não existiria pirataria (ao menos seria menor). Todo mundo adora pagar “um pouco mais” pra ter qualidade. O que acontece é que a indústria não admite que ela tem que melhorar seu serviço e concorrer contra a pirataria. Ela só consegue pensar que está certa e que tem que esmagar os piratas. Ela nunca vai conseguir. Os tempos mudaram, não adianta brigar com a internet, e sim admiti-la como uma nova plataforma.

    Eu acho até que a indústria de games já está um passo a frente nesse sentido.
    O Steam, por exemplo, vende jogos para serem baixados. O esquema elimina um monte de atravessadores e de custos desnecessários, o que reduz o preço do jogo ao mínimo possível. Só existe o Steam entre a empresa desenvolvedora e o consumidor. Isso possibilita, inclusive, que pequenas empresas consigam ganhar alguma coisa com projetos independentes (antigamente mal conseguiam publicá-los).

    Um dia desses eu comprei um ótimo jogo por 5 dólares, numa promoção. Isso dá uns 3 DVDs no camelô, mas que mesmo assim vale muito a pena, já que agora tenho o game original pra baixar quando eu quiser, e em alta velocidade, sem falar de alguns conteúdos extras. Esse é um bom exemplo de como a indústria pode ganhar da pirataria.
    Apesar de o Steam ainda possuir games a custos bem elevados (lançamentos), a idéia é boa e tem muito potencial.

    Eu acho que no caso dos filmes (e seriados) o negócio tá bem complicado mesmo. Ninguém quer pagar 100 reais e ainda esperar 3 meses, só pra ter o produto original na mão. Fazer o que? O download é bem mais atrativo nesse quadro.

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